quarta-feira, 21 de março de 2012

UM POUCO DE NOSSA HISTÓRIA


 
O Sítio Morro do Elefante foi adquirido em 07/09/1999, era uma propriedade que nunca havia sido habitada, no entanto seus antigos proprietários tinham usado parte de suas terras como pastagem até aproximadamente o ano de 1984, prática abandonada posteriormente devido a dificuldade topográfica. Tratava-se de uma das famílias pioneiras da região, família Paranhos, descendentes antigos de portugueses, desbravadores, responsáveis pela abertura das estradas locais e produtores até hoje do queijo tipo parmesão, famoso na região.
Depois de adquirido por nós, limitamos ainda mais a área de desmatamento, enquanto o antigo proprietário usava aproximadamente 1/3 de sua área para pasto, nós passamos a usar menos de 1/10 de sua área para benfeitorias como moradia, casa do mel e pomares. O Sítio tem uma área de 39,44 ha sendo que desse montante 30,70 ha é área da RPPN, o restante é área de mata nativa 6,98 ha e apenas 1,76 ha é área de benfeitorias e pomar.





Casa do Mel e Processamento de Doces e Geléias



Logo após a compra do sítio fizemos uma pequena cabana de madeira (eucalipto) que imaginávamos seria a única morada por muito anos, pois somos professoras, nossos ganhos são modestos, no entanto o destino conspirou e conseguimos construir a casa sede, usando vários materiais de demolição, que nos foram cedidos por parentes e amigos.
Hoje temos além da cabana pioneira, a casa sede um pequeno chalé que foi construído com tijolo ecológico (feito no próprio sítio) e a Casa do Mel onde também são processados os doces e geléias produzidos no sítio.

Frutiferas em produção

Em 2005, eu Margarete Nogalis, me mudei para o sítio em definitivo, na ápoca eu morava em Paulínia (SP) e trabalhava na Associação Beneficente Parsifal (SP) como Terapeuta Social. Vim trabalhar como professora da Rede Municipal de Ensino em Bocaina de Minas. Morando no sítio pude organizar melhor os plantios, incrementar o trabalho com Apicultura e outros projetos, como a Oficina de Papel Artesanal, que funcionou na localidade de Santo Antônio do Rio Grande de 2005 até 2011, com crianças e adultos, culminando com a confecção de xilogravuras de temas locais. Posteriormente montamos agendas e cadernos com papel artesanal e todas as xilogravuras confeccionadas.

Agendas feitas com xilogravuras de temas locais e papel artesanal feitos pelos participantes do grupo de artesãos de Santo Antônio.

Trabalhei também com as mulheres da localidade, ensinando e resgatando a técnica da tecelagem manual, com um grupo inicial de 20 pessoas. Após 2 anos de trabalho voluntário com esse grupo, organizamos a Associação de Artesãos de Santo Antônio do Rio Grande, hoje existem dois pequenos pontos de venda dos trabalhos feitos pelas tecelãs locais que deram continuidade a esse trabalho.


 
Fazendo parcerias com outras pessoas da localidade pudemos trazer para cá vários cursos de capacitação tanto do SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, como do Sebrae e EPAMIG, como Fruticultura, Apicultura, Produção de Própolis, Fruticultura II e Cultivo de Oliveiras. Alguns desses cursos foram realizados aqui no Sítio, pois na época era um dos poucos sítios com fruteiras de clima semi-temperado onde poderiamos realizar vivências. Hoje, até por conta da influência de nossa experiência bem sucedida, outras pessoas já começam a diversificar o plantio de frutíferas.

 
Em Setembro de 2007, no auge da seca nesta região, passamos por momentos de profunda tristeza.Um vizinho, bastante inconsequente, ordenou que um empregado seu fizesse uma queimada para formação de pasto. Soubemos desse fato e fomos imediatamente conversar com esse vizinho, para que ele não o fizesse, pois a seca era muito severa, não chovia há mais de três meses, no entanto de forma imprudente e irresponsável a queimada foi feita, o fogo atravessou a cerca e queimou por dois dias e duas noites, só parando no terceiro dia com uma chuva forte que foi uma benção vinda do céu.

                                             Inicio da queimada em 19/09/2007.

Após esse triste evento resolvemos transformar nosso Sítio em RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural Morro do Elefante (Apoio SOS Mata Atlântica) e não só recuperar a área queimada como também tentar trabalhar a consciência local contra as queimadas, caçadores e outras formas de devastação. Mas isso tem um preço, nem sempre é bem visto pela população local que tem hábitos arraigados e não consegue perceber que a vocação maior da Serra da Mantiqueira é a preservação. Para isso precisamos conservar os mananciais, a fauna e a flora, pois uma depende da outra intrinsecamente.
Depois disso nos inscrevemos em inúmeros projetos de recuparação de áreas degradadas e recebemos mudas de árvores nativas de várias instituições. Somamos hoje 6.700 árvores nativas plantadas nesses últimos anos e também plantamos sementes de Araucária (pinhão) em todas as safras, algumas dessas árvores já florescem e com certeza gerarão novos indivíduos aumentando assim a diversidade de nosso sítio.
      
Quaresmeira plantada em 2007, hoje exibindo suas belas florês.

 
Participamos do Projeto ProMata, recuperando uma área de 12 ha, e hoje somos contempladas pelo projeto do Governo de Minas, Bolsa Verde. Somos responsáveis por duas nascentes que brotam dentro da área da RPPN, correm pelo sítio e deságuam limpas no Rio Grande.
O Sítio sobrevive da produção de mel e cultivo orgânico de frutas de clima semi-temperado e posterior processamento em geléias e doces, bem como a desidratação de parte da produção. O trabalho é sem fim, mas nos sentimos muito felizes com os resultados. Nossos ganhos continuam sendo modestos, temos que trabalhar muito, pois ainda há inumeros investimentos a serem feitos,  mas nossos corações ficam mais leves quando observamos os pássaros e outros animais que vivem tranquilos na área da reserva.